Essa é uma dúvida bastante comum, inclusive no meio espírita, cuja resposta é: sim e não, depende.

O “depende” pode parecer uma resposta evasiva, mas não é. Vamos detalhar a questão para esclarecer, ok?

Para começarmos, precisamos entender o que é religião.

A religião convencional

Normalmente é concebida como religião a crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, não totalmente compreendido, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência.

Caracteriza-se pela devoção a todos os preceitos e princípios estabelecidos, ou seja, aceitação plena dos pontos fundamentais apresentados como certos e indiscutíveis, conhecidos como dogmas.

Portanto, podemos resumir religião como um conjunto de crenças e práticas, baseadas em livros sagrados, que unem seus seguidores numa comunidade. Busca a satisfação nas práticas religiosas ou na fé para superar o sofrimento e alcançar a felicidade.

O que diz o senso comum

A expressão Espiritismo, para a maioria das pessoas, identifica uma religião convencional. Nada mais que uma religião, concorrente das demais e que se comporta como as outras.

Possui visões diferentes em algumas questões, mas é apenas uma religião como Catolicismo, Protestantismo, Budismo, Islamismo entre outras.

Todas têm o mesmo objetivo, têm seus dogmas, seus templos, seus cultos, têm as suas facções e têm seus adeptos.

Normalmente o adepto de uma não gosta das outras, as veem como rivais, até mesmo inimigas, contrárias ao “Deus” da sua concepção. Chegam até a promover conflitos para destruir os seus seguidores, conforme está registrado na história humana.

Os motivos da associação

O espiritismo “virou religião” na cabeça de muita gente por vários motivos, vejamos alguns.

Primeiro por causa da intolerância religiosa, principalmente, na época do seu surgimento (final do século XIX). Os religiosos estabelecidos o combatiam pois, já em sua obra básica, o espiritismo sugere que o maior modelo moral a seguir é Jesus. Ser este que as religiões normalmente o têm como propriedade suas.

Segundo é pela necessidade de muitas pessoas terem uma religião. Por isso, muitos espíritas também acham por bem concebê-lo desta forma. E assim vão praticando-o com suas rezas, obrigações, rituais e até mesmo proibições e obrigações, defendendo também essa sua qualificação.

Veja também: O que espiritismo proíbe ou é contra?

Terceiro é a falta de estudo da própria doutrina espírita. Diferente das religiões convencionais que, em grande maioria, não suportam que os seus adeptos estudem, questionem e muito menos discordem.

O espiritismo não admite isso. Sua principal característica é o desenvolvimento da “fé raciocinada”, ou seja, questionar e compreender os porquês das coisas da vida, não apenas acreditar.

Então se um espírita não estuda, ele não entende o espiritismo. Logo, não consegue aplicá-lo. Sem o estudo, o que se percebe é uma transferência (muitas vezes inconsciente) de dogmas de outras religiões.

O que diz Kardec

Allan Kardec (codificador da doutrina espírita) definiu o espiritismo como “a doutrina fundada sobre a existência, as manifestações e o ensino dos espíritos”.

Segundo ele, o espiritismo alia ciência, filosofia e religião, buscando uma melhor compreensão não apenas do universo tangível (científico), mas também do universo a esse transcendente (religião).

Veja também: Conheça os 5 princípios ou postulados do espiritismo

As diferenças

O espiritismo, além de uma doutrina, é também uma religião pois a esta faz parte de seus estudos e conceitos. No entanto, o espiritismo se difere em muitos aspectos do conceito padrão de religião. Começa pela sua estrutura onde não está presente nenhum tipo de hierarquia, dogmas ou qualquer tipo de culto ou cerimônia.

O espiritismo inclusive não incentiva nem recomenda nenhuma forma cega de fé, já que prega justamente o equilíbrio entre seus conceitos.

O espiritismo se constrói, principalmente, e de maneira diferente das demais religiões, na possibilidade de comunicação entre o mundo material e o espiritual. Esse é um dos principais pilares do espiritismo.

Apesar das questões religiosas e aplicações terem sido deduzidas por Kardec, os princípios e a essência do espiritismo foram transmitidos pelos próprios chamados “espíritos da Verdade”.

Outro pilar fundamental do espiritismo é seu caráter não materialista, pregando com muito afinco a caridade e a compaixão ao próximo.

O espiritismo considera este mundo como um estado passageiro e como um estado não natural do espírito. Nossa forma natural não é material, mas sim espiritual. Nos ligamos a um corpo físico em uma espécie de jornada de aprendizado.

Ciência, filosofia e religião

O espiritismo trata, na verdade, de um conjunto de conceitos que une ciência, religião e filosofia.

equilíbrio entre esses três conceitos nos leva a uma real percepção do mundo. O desequilíbrio e o favorecimento de apenas uma dessas áreas nos levaria a situações de fanatismo, ceticismo ou negação, por exemplo.

A doutrina espírita se propõe a estabelecer um estudo profundo e imparcial. Abrange todos os conceitos religiosos, filosóficos e científicos da humanidade em uma ótica de certa forma mais neutra e sem preconceitos entre si.

Conclusão

O espiritismo não pode ser considerado uma religião se você o entender apenas como uma religião convencional. Ele não se enquadra na definição.

É mais abrangente(pois engloba além religião, ciência e filosofia) e ainda é progressista, ou seja, os conhecimentos são sempre ampliados a medida que o homem se desenvolve intelecto e moralmente, não existindo dogmas, por exemplo.

Por outro lado, o espiritismo também pode ser considerado religião, se você o entender como prática edificante que leva o homem a melhora moral, a religar aos bons sentimentos, a fazer todo o bem possível.

Por isso a resposta inicial no artigo é “depende”. A resposta varia de acordo com seu entendimento sobre o que é religião e espiritismo. Varia de acordo com. Asua necessidade de definir esses termos.

Vale observar que Jesus não fundou religião alguma. Ele exemplificou um conjunto de conhecimentos que alicerçam o progresso da humanidade. O espiritismo revela a continuidade desses conhecimentos. Ele é a chave para interpretar os seus ensinamentos sem ambiguidades.

A religião é uma invenção puramente humana. Necessária como ferramenta para preencher lacunas em nosso conhecimento que, por enquanto, transcendem a nossa razão.

Portanto, a religião como a conhecemos, pode ser entendida como um mecanismo temporário até que tenhamos, como espíritos, maturidade suficiente para compreender Deus e seus desígnios.